Ecovilas, mal-estar e o sujeito na contemporaneidade

Resumo

Resumo: Este trabalho se propôs a investigar a tentativa de mitigação do mal-estar civilizatório, através do modelo de comunidade das ecovilas, sob o viés psicanalítico. Para cumprir com esse objetivo, em um primeiro momento, remontamos a partir de Freud, a história do movimento civilizatório através do mito da horda primeva, para entendermos a necessidade de fundação da vida em sociedade. Nesta alegoria, destacamos o assassinato do lider poderoso (o pai da horda), que impunha a sua lei pela força, sendo enfim executado pelos seus filhos oprimidos. O sentimento de culpa então gerado por este crime, propiciou a internalização a lei, a proibição do incesto e do assassinato, e a consequente repressão dos desejos, que vetorizou a tecitura social, a partir dos alianças entre hordas. Entretanto, a criação da vida em sociedade, para barrar a lei do mais forte, não tornou os humanos mais felizes, uma vez que gerou um mal-estar, fruto das imposições impostas pela sociedade, e também do direcionamento da agressividade contra o próprio Eu. Acompanhados, portanto, de autores atuais que propõem alternativas para tentar lidar com o sofrimento cultural, analisamos o Ideário Ecológico, que preconiza um estilo de vida com menos consumo, mais contato com a natureza, sem lideranças opressivas, e com uma busca de retomar uma dinâmica social menos individualista. A materialização deste ideário presentifica-se nas Ecovilas, que são comunidades urbanas ou rurais, onde as pessoas buscam viver seguindo os princípios mencionados, almejando superar o sofrimento decorrente da dinâmica coletiva contemporânea. Diante disso, problematizamos através da teoria psicanalítica, se esta tentativa de evitar o sofrimento implica em uma possibilidade contundente de lidar com o mal-estar, ou se apenas o reconfigura, dado que a sua extinção é da ordem do impossível, por ser inerente à dinâmica intersubjetiva.

Palavras-chave: Desamparo; Mal-estar; Sociedade; Ideário Ecológico; Ecovila.