Acesso a medicamentos padronizados no Brasil: processos estruturais em casos de desabastecimento

Simone de Sá, Susana Cadore

Resumo


Resumo: O fenômeno da judicialização da saúde é mundial e dentre suas inúmeras subdivisões, restringe-se este estudo às exigências judiciais decorrentes do dever do Estado brasileiro em fornecer medicamentos à população como uma escolha constitucional de prevenção, promoção e proteção à saúde em um contexto individual e coletivo. Este artigo objetiva analisar a possibilidade de utilização do processo estrutural nessas demandas e a sua forma de condução. Pela complexidade da matéria, elegeu-se tratar detidamente a questão do desabastecimento envolvendo os casos de medicamentos padronizados, ou seja, aqueles que já foram eleitos como uma Política Pública, nos quais a omissão do Poder Público é inquestionável. Apesar disso, houve cuidado em analisar-se o entrelaçamento entre casos que envolvam medicamentos padronizados e não-padronizados em capítulo específico. A pesquisa é desenvolvida a partir de revisão bibliográfica, bem como da análise de dados disponibilizados pelo painel relatório Justiça em Números no tema Saúde Pública. Utilizou-se ainda o estudo da legislação e de precedentes importantes sobre a matéria, em especial das premissas estabelecidas na decisão oriunda do RE 1.366.243 SC com repercussão geral, que culminou no Tema 1234 do STF, dedicando-se um capítulo para esclarecimentos sobre a classificação dos medicamentos, já que dela decorre a distinção do tratamento jurídico atualmente conferido. Também foi realizado um estudo de caso referente ao suposto desabastecimento, a fim de dar-se concretude à hipótese específica de análise do artigo.

 

Palavras-chave: Processo Estrutural. Medicamentos Incorporados. Direito à Saúde.

 


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