VIDA ESPIRITUAL E A MORTE PSÍQUICA (PSICOLOGIA)

Resumo

Embora sejam encontrados na literatura muitos estudos associando religião e saúde mental, há poucos estudos que associem o adoecimento mental à religião. Por meio de uma pesquisa interpretativa, com a utilização da Autoetnografia e suporte pela Análise Categorial do Discurso, como ferramenta de análise, além de uma revisão bibliográfica, descreve-se como mecanismos de adoecimento psíquico são acionados por práticas religiosas fundamentalistas como (a) inadmissão de divergências; (b) a supressão constante do ego em nome da humildade requerida para religiosos; (c) a anteposição entre vida subjetiva e vida espiritual, com renúncia total à subjetividade humana; (d) o micro controle de todos os aspectos da vida (educação, profissão, amizades, relacionamentos amorosos, casamento, filhos, vestimenta e práticas de lazer; (e) a ameaça constante da perda de privilégios, perda da aprovação de Deus e perda da oportunidade de vida eterna; e (f) a rejeição e ostracismo aos divergentes. Tais mecanismos são utilizados em abundância pelas Testemunhas de Jeová, com os objetivos de manter um grupo impenetrável a ideias externas, afastado do mundo e suas ideias modernizantes, submissos a ensinamentos padronizados e dos quais não se pode discordar. O resultado é que os membros da religião perdem suas vidas psíquicas ao abdicarem de qualquer subjetividade, projetos e anseios pessoais, seja por medo da perda da vida eterna, seja por medo da expulsão e ostracismo social, que inclui até mesmo membros da própria família. O estudo mostra, por meio de suas categorias de mecanismos de sofrimento, que práticas religiosas fundamentalistas adoecem e provocam a morte psíquica. Palavras-Chave: adoecimento mental; religião; autoetnografia; mecanismos de sofrimento psíquico.