A alegorização da mulher no conto “uma galinha”, de Clarice Lispector: uma análise pela perspectiva do direito na literatura

Mateus Miguel Oliveira, Margareth Vetis Zaganelli

Resumo


Resumo: Por intermédio do recurso literário da alegoria ou representação alegórico-simbólica, o presente artigo promove a análise do conto “Uma galinha”, do livro “Laços de família” (1960), de Clarice Lispector, com objetivo de identificar elementos de representações sócio-políticas e culturais da mulher brasileira da década de 60 (período em que fora publicado), bem como suas lutas e o anseio pela mudança do paradigma patriarcal. Metodologicamente, adotou-se o método hipotético-dedutivo, seguido da abordagem exploratória e revisão bibliográfica, constituindo-se a análise pelos elementos narrativos do próprio texto (recursos literários, personagens e enredo) e baseada na interseção entre Direito e Literatura, especificamente a partir do modo de articulação “direito na literatura”, pelo qual é possível compreender, entre outras coisas, o uso simbólico do direito pela literatura, promovendo reflexões críticas. No caso do conto, em especial, acerca da desigualdade de gênero. Diante dos traços de identificação das alegorias insertas no conto sob análise, bem como outras obras de Clarice Lispector que possuem relevância para este fim, é possível, então, criticamente correlacionar os fatores sócio-políticos e culturais da vulnerabilidade e marginalização da mulher, do contexto literário ao literal, além de sugerir os elementos de transformação e ruptura dessas condições.

 

Palavras-chave: Clarice Lispector; “Laços de família”; alegoria; direito na literatura; desigualdade de gênero.


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